Texto produzido na disciplina de Linguagem e Texto Jornalístico V, sob a orientação das professoras Tattiana Teixeira e Janaíne Kronbauer.

Os estágios em Jornalismo são uma coisa engraçada. A maioria consiste em trabalhar com mídias sociais (mesmo que não haja praticamente nenhuma matéria no currículo do curso que aborde esse tema). Eu fazia estágio em um instituto que oferece oficinas esportivas e educacionais a jovens e pessoas com deficiência em situação de vulnerabilidade social. Nas oficinas, são trabalhados temas educativos relacionados a paz, convivência, respeito, essas coisas. E uma das minhas tarefas era registrar os encontros para postagem nas redes, então ficava ali com o celular filmando e tirando fotos enquanto os educandos jogavam tênis, futebol e outros esportes.
Em uma das primeiras oficinas que acompanhei, depois da prática do esporte, o educador reuniu a turma na roda final para testar se as crianças sabiam diferenciar os hábitos bons dos ruins, que era o tema daquela aula. Perguntou coisas como:
— Escovar os dentes é um hábito bom ou ruim?
— Bom! — diziam elas.
— E comer fritura todo dia, também?
— Não!
— Praticar esportes, é?
— Sim!
Geralmente acho engraçado esse tipo de atividade, porque, bem, não precisa ser muito inteligente — nem ter prestado muita atenção na oficina — para saber essas respostas. É tudo meio senso comum. Não que tenha problema, claro, mas ninguém vai errar umas coisas assim, né?
— E usar o celular em excesso? É um bom hábito?
Para minha surpresa, as crianças deram umas risadinhas e disseram:
— Sim!
O educador franziu a sobrancelha, e eu também. Mas mal sabíamos nós que as crianças, muito mais espertas, já tinham os argumentos na ponta da língua para justificar esse posicionamento. Com aquela superioridade de quem sabe que está certo, um deles apontou para mim:
— Olha, ele tá usando o celular e ganhando dinheiro pra isso.
E eu, estagiário que deveria apenas registrar as atividades para postar nas redes sociais, acabei me tornando, por alguns segundos, o foco da turma. E, apesar do quão inesperada foi aquela frase, não dava para dizer que ele estava errado.
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