Nathalia Luna

Na nona edição do Arvo Festival, realizada em Florianópolis de 1 a 3 de maio, Ana Frango Elétrico subiu ao palco principal para cantar seu terceiro e mais recente álbum, Me chama de gato que eu sou sua. Com influências musicais oitentistas, o disco foi lançado em outubro de 2023. No show, a cantora — que é também compositora, poeta, multi-instrumentista e artista plástica — ainda apresentou o single “Mulher Homem Bicho”.

Ana transforma suas vivências em composições musicais. Na letra de “Insista em mim”, entrega ao público intimidade, uma afetividade das relações humanas. Uma de suas particularidades é permitir que as inspirações venham de qualquer lugar e experiência. E é essa trama que domina a conversa que tive com Ana Frango Elétrico no backstage do Arvo Festival.

CADERNO EXPRESSÕES – Antes de você subir no palco, Alcione falou que o músico brasileiro é o maior do mundo. O que você acha?
Ah, eu acho que é essa diversidade mesmo, no sentido que são muitos ritmos, é muita complexidade, simplicidade ao mesmo tempo. A continentalidade dele, acho que ele ajuda nesse sentido, nessas complexidades. Então eu concordo com ela. É basicamente isso, viva a música brasileira!
CADERNO EXPRESSÕES – E você acha que na música contemporânea brasileira ainda existe liberdade criativa?
Com certeza!
CADERNO EXPRESSÕES – Seu trabalho tem um visual muito único! O clipe de “Roxo”, de Mormaço Queima, ilustra bem isso. Queria saber se o processo de criação da estética e do teu visual trabalham junto do som, ou são coisas que você pensa de forma distinta?
Junto, com certeza, mas obviamente existem as suas diferenças. Eu queria fazer pintura, queria ser artista visual, na verdade. Então, acho que eu tenho um desejo inerente pela estética visual do meu trabalho. Acho que às vezes, inclusive, comecei com a música muito atrás disso, de alguma forma. Quando comecei a fazer música, no meu primeiro trabalho, Mormaço Queima, eu pintava, escrevia poesia e comecei a fazer algumas músicas. Então, pra mim, a música vem atrás. Mas, a partir desse trabalho, fui me dedicando e botando minha energia em pensar música também de forma técnica, na parte de engenharia de som, da produção musical.
Pra mim, é impossível não pensar na parte estética, por exemplo, nas cores de uma música. Ao mesmo tempo, também penso muito na música como música, na canção, no andamento, no arranjo de uma forma que não é tão estética. É criativa, mas não estética. Também desenvolvi um trabalho de serigrafias, pinturas e outras coisas que não necessariamente têm a ver com música, mas estão em mim. Eu não me considero mais uma coisa só, nos tipos de arte que faço.
CADERNO EXPRESSÕES – Nas suas composições, a gente vê muita afetividade. Qual o papel da intimidade e das relações humanas na sua criação?
É um papel pessoal, no sentido da vivência, do estar com o outro. Acho que tem a ver com o meu âmbito pessoal e com a poesia, porque acredito que a poesia surge do encontro com o outro, do que você ouve, do que você gosta no som do que o outro fala. Acho que a poesia está no outro também.
CADERNO EXPRESSÕES – E quais são as suas referências na poesia?
Salgado Maranhão é um poeta brasileiro que, quando descobri, mudou a minha vida. Entendi a poesia através dele. Aí fui ler outras coisas: Mayakovski, Eucanã Ferraz, Chacal, Guilherme Zarvos, Maya Angelou… Li muitos, de russos a afro-americanos, portugueses. Então, a poesia está em tudo. Acho que referência é tudo. E não só esses nomes: meus amigos, vizinhos, quem encontro na rua, as trocas. Todos os afetos, todos os cantos do mundo. A internet também.
CADERNO EXPRESSÕES – Você cantou uma versão de “Não tem nada não”, do Marcos Valle. Isso faz parte de algo? Vai ser lançado?
Sim! Tenho cantado essa versão durante toda a turnê. Resolvemos entrar em estúdio e espero lançar essa canção em breve.

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