
Era Dia das Mães, dia 12 de maio, e como estava sozinho morando na cidade que não tenho família, me restou minha amiga. Ela também não tinha com quem passar o Dia das Mães. Decidimos ir ao shopping.
Passando por uma ponte no caminho, minha amiga viu uma pedra se mexendo no rio. Meio chocado com sua miopia, mostrei que a então “pedra” era um animal. O tal do jacaré de papo amarelo que vive no mangue do lado do shopping. Ela, assim como qualquer pessoa normal deveria ficar, ficou surpresa. Como assim jacaré do lado de um lugar como esses? Em que momento as pessoas se acostumaram a viver a vida com répteis quase pré históricos logo ao lado?
Na hora, eu ri da cara dela, já que pra mim fazia total sentido a sua presença, depois de dois anos passando por aquele mesmo caminho. No fundo, fiquei pensando como eu era uma daquelas pessoas que se acostuma com um jacaré ao lado do shopping. Mas, meu Deus, da primeira vez que os vi, tirei até foto. Isso porque na minha antiga cidade nunca tinha visto um bicho desses. Quando será que a surpresa acaba?
A caminho da praça de alimentação ainda tinha isso na cabeça. Para tentar espairecer, falei que ia comer um sanduíche do BK. Ultimamente tinha sido meu lanche to-go, sempre o mesmo hambúrguer. Mas desde quando? Na minha cidade também não tinha fast food. As famílias que formavam fila em frente à loja agiam com a maior naturalidade. Mais um domingo, mais um hambúrguer ultraprocessado.
Entrei em uma espiral. Entendo que, como disse Darwin, as espécies que sobrevivem são aquelas que se adaptam melhor às mudanças. Não passa de uma forma de sobrevivência… Talvez. Quantos também estão longe da família, e quantos outros se assustaram com o jacaré? Em que etapa da metamorfose elas se encontram? Não compartilhei isso com a minha amiga. Ia deixá-la se acostumar no tempo dela. Afinal, estávamos juntos para não ficar sozinhos. Só isso.
Quando saímos do shopping, já era noite. Minha amiga, pela segunda vez no dia, se surpreendeu na mesma ponte. Tinha novas “pedras” que se mexiam. Dessa vez ela viu sozinha — não eram mais os dinossauros. Eram capivaras. Quando olhei pra cara dela, comecei a rir. Agora, não mais do choque estampado em seu rosto. Ri de mim mesmo. Já que, meu Deus, não tinham capivaras na minha antiga cidade.
Crônica produzida na disciplina de Linguagem e Texto Jornalístico V, sob a orientação das professoras Tattiana Teixeira e Janaíne Kronbauer.
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