A misericórdia e o julgamento em “O Auto do Injustiçado”

Figurino é destaque da peça apresentada na XII Maça

Sthefany Mie Takahassi

Peça é dirigida pelo dramaturgo Cristan Menna, entrevistado pelo Expressões. (Foto: Sthefany Mie Takahassi)

O Auto do Injustiçado teve sua primeira apresentação no dia 21 de março, na XII Mostra Acadêmica de Artes Cênicas (Maçã), marcando a primeira realização cênica da produtora teatral Mesoilha. A peça tem inspiração na obra O Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna.

A peça tem aproximadamente duas horas de duração, um tempo considerado longo, ainda mais no contexto atual de um público que perde facilmente o foco, formatos de vídeos e comunicação ficando cada vez mais curtos. Questiono se o diretor levou isso em conta, exigindo esforço do público em manter a atenção e assumindo esse risco, ou se foi uma questão considerada menos relevante ao lado de outras intenções do texto. 

Texto é recheado de temas religiosos, entre eles o perdão. (Foto: Sthefany Mie Takahassi)

O dramaturgo trouxe o questionamento e ainda enfatizou o poder do perdão, um dos grandes ensinamentos do cristianismo. Na peça, os personagens fazem coisas que contradizem sua religião, mas acredito que a intenção é mostrar isso e dizer que o perdão referente a esses erros faz parte da evolução, esses valores sobre misericórdia e piedade deveriam ser mais praticados do que o julgamento e o condenamento, tão mais comum hoje. E isso não vale apenas para a realidade da peça. 

Sobre estética, a cor bordô do conjunto cropped e saia do Diabo ficou simplesmente estonteante. O formato e cores das roupas de Manoel e da Compadecida realmente trazem a figura de santidade. Destacam-se o chapéu triangular da Madre e as mangas de diferentes comprimentos do Tolo. A composição desses objetos agrega muito na compreensão da peça, é um uso inteligente de símbolos, signos, formas, cores, uma ferramenta muito valiosa para o teatro.

Cor do figurino do Diabo foi destaque na peça. (Foto: Sthefany Mie Takahassi)

A peça aborda várias questões morais, sociais, religiosas e éticas, temas tão cruciais e importantes. Cristian Menna, o dramaturgo, aborda esses assuntos sem medo e sem censura, o que talvez seja uma das coisas que nossa geração, tão marcada de cicatrizes, precise. Parafraseando a peça, será que não estamos sofrendo a ausência desses conceitos que um dia foram usados para separar o bem do mal?


Crítica produzida na disciplina de Crítica em Artes Cênicas, sob a orientação da professora Dirce Waltrick do Amarante.


Sthefany Mie Takahassi

Estudante de Artes Cênicas na UFSC, anda pesquisando vários movimentos do corpo, da arte e da vida.

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