Nathalia Luna

O grupo de pesquisa em moda, audiovisual e sustentabilidade Ecomoda Play lançou em junho no YouTube o documentário Biomoda: A natureza vestida. Idealizado por Neide Kohler Schulte, professora do Departamento de Moda da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), o documentário de 25 minutos surgiu do Ecomoda Udesc, programa de Extensão do curso de Moda da universidade. Por meio de entrevistas com realizadores, professores e alunos, são contadas as duas décadas de atividades do programa.
“O documentário traz relatos justamente de pessoas que vivenciam moda sustentável, o quanto trabalhar com isso transformou a vida delas, e o quanto elas também impactam outras pessoas”, afirma Neide. O lançamento aproveitou a data 5 de junho, dia do Meio Ambiente.
O termo biomoda, que originou o nome do documentário, significa para Neide um avanço da ecomoda, que consiste em reaproveitar os resíduos têxteis que seriam descartados no meio ambiente. Já a biomoda foca em criar coisas novas a partir desses resíduos, como explica Neide: “Sempre vai ter um momento que aquele material não dá mais pra usar, e, dentro da biomoda, a ideia é produzir um material novo, e que a gente possa ter um ciclo menos nocivo, danoso.”
A decisão de transformar o Ecomoda em documentário surgiu da percepção de Neide de que vivemos uma realidade marcada pela presença da tecnologia e do audiovisual. “Como eu poderia falar mais da ecomoda, se não nessa linguagem que todo mundo está acessando?”, questiona.
Segundo a professora, desde o início da pesquisa para a produção do documentário, há dois anos, seu propósito sempre foi “mostrar o lado positivo da relação entre moda e sustentabilidade”. Em vez de focar nos problemas, ela optou por destacar as soluções. O objetivo do documentário é transformá-lo em uma ferramenta de educação.

O programa
Este ano, o Programa de Extensão Ecomoda Udesc completa duas décadas de atividades socioambientais. Coordenado por Neide, desenvolve o conceito de sustentabilidade na moda com ações sociais e educativas, com foco na inclusão social e independência feminina. “O programa nasceu dessa busca por uma moda mais responsável. Porque a gente sabe o quanto a moda impacta todo o sistema.”
São oferecidas à comunidade externa, oficinas de bordado, pintura e costura, com foco na recuperação e transformação de roupas e tecidos, e palestras voltadas para a educação em sustentabilidade. Desde sua criação, em 2005, tem como princípio atuar com e para as mulheres, de forma gratuita. “Ensinar principalmente mulheres, e à medida que a gente faz, elas vão se envolvendo, percebem o quanto é interessante e como mexe com a criatividade”, afirma Neide.
O Ecomoda tem muitas alunas com mais de 60 anos de idade, algumas aposentadas. Neide percebe que, para elas, o contato com outras mulheres dentro do Ecomoda melhora sua qualidade de vida. “Todo o trabalho reúne as mulheres, elas veem uma possibilidade de desenvolver algo em que elas se sintam bem, e ao mesmo tempo estão trabalhando a questão da sustentabilidade na prática.” Neide explica como a prática sustentável, independentemente do cenário onde se encontra, pode trazer mudanças para outras áreas da vida, seja no vestuário, na alimentação, ou em outro âmbito. “Não tem como separar sustentabilidade de questões ambientais, de questões sociais, é tudo muito integrado. Mudar o comportamento é sustentabilidade.”
Vanderleia Camargo Gomes, empreendedora e consultora de imagem especialista em varejo de moda, que também fez parte da produção, espera que o documentário se torne um canal de inspiração e informação. “Que cuidar do processo de desenvolvimento e consumo de moda seja normalizado na sociedade futura.”
Karine Matos de Freitas, empreendedora e dona da In Core Ecodesign, marca de upcycling, participa do documentário e explica que todos os materiais utilizados pelo Ecomoda Udesc têm origem sustentável. “A gente entra em contato com algumas marcas que doam resíduos”, afirma. “Temos uma rede de apoio dos próprios alunos, professores e participantes das oficinas, que fazem coletas e arrecadam materiais.”
A empreendedora espera despertar um senso de autorresponsabilidade nos espectadores. “A gente está acostumado a pensar que da porta da casa para fora não é mais nosso problema. Nem as marcas estão preocupadas em trazer a questão da sustentabilidade na produção e no pós-consumo.”
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