Festival de Cinema Assimetria celebra sua oitava edição com exibição simultânea na UFSC e UFSM

Curta produzido por estudantes de Cinema da UFSC ganha destaque no primeiro dia de exibição do festival

Jéssica Schmitt

Exibição do curta Palavras Cruzadas na UFSC na quarta-feira. Foto: Jéssica Schmitt.

Ontem (04) e hoje (05), às 19h, o Festival de Cinema Assimetria exibe 16 documentários, ficções e produções experimentais de estudantes na sala de projeção do Bloco D do Centro de Comunicação e Expressão (CCE) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e no Auditório do Prédio 67 da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Apesar de o Festival ter surgido em 2018 como um projeto de extensão na UFSM em parceria com a UFSC, essa foi a primeira vez que as exibições ocorreram de forma simultânea em ambas as Universidades.

O objetivo do Assimetria, segundo a professora do curso de Cinema da UFSC responsável pela organização do festival em Florianópolis, Patricia de Oliveira Iuva, sempre foi ser uma janela de visibilidade e incentivo à produção audiovisual universitária, tentando entender o que está sendo feito no sul do Brasil e nos países vizinhos parceiros do festival (Uruguai, Argentina, Paraguai e Chile). A professora explica que a ideia é focar em produções universitárias de estudantes de graduação e pós-graduação de qualquer curso. “Pode ser de Animação, Jornalismo, Cinema, até um estudante de Agronomia que fez um filme. Mas o material precisa ter um vínculo com uma instituição de ensino superior”. 

A primeira edição do Festival ocorreu em Santa Maria. Depois, a segunda edição, em Florianópolis. Nos anos seguintes, 2020 e 2021, com a pandemia, as exibições aconteceram de forma remota e voltaram ao presencial somente em 2022, com uma consequência na qualidade dos materiais, segundo Patrícia. “A gente sentiu um impacto ali em 2022 e 2023 na qualidade das produções e na quantidade também, porque caiu o número de inscritos nesses anos”. 

Neste ano o Assimetria obteve mais de 40 inscrições, com 16 produções selecionadas para a exibição. Conforme Patrícia expõe, o festival funciona da seguinte forma: existe o júri oficial, com professores ou profissionais da área, e o júri popular, que é composto pelo público. Cada um dos júris vota em uma produção para levar cada um dos prêmios. Neste ano o júri oficial é composto por Adriane Canan (Lilás Filmes/SC), Pedro Faissol (roteirista/Unespar/PR) e Marcelo Gobatto (artista visual/FURB/RS). Além da estrutura de jurados, o Festival opera com uma curadoria, responsável por escolher as produções que serão exibidas nos dois dias. 

Urna para o público depositar o voto. Foto: Jéssica Schmitt.

Ontem, no primeiro dia da mostra do festival, a produção que levou o júri popular na UFSC foi a ficção Palavras Cruzadas (2024), de Marthina de Alexandri Baldwin e Bhadra Reis de Castilho, graduadas em Cinema pela UFSC. “Esse festival me marcou, digamos assim, porque eu dirigi no primeiro semestre da faculdade um curta que foi para esse festival, na primeira edição, em 2018. Ele era pouquíssimo conhecido, mas selecionaram o curta para exibição e ele ganhou pelo júri popular. Então, é bem simbólico voltar para cá seis anos depois e uma outra produção minha ganhar novamente pelo júri popular”.

Palavras Cruzadas (2024) é um curta que trabalha temas como a memória e luto, e foi produzido em meio à pandemia para a disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). “Como o filme não contou com nenhum auxílio financeiro, nenhum edital, o projeto exigiu bastante tempo, para angariar fundos. Então, ele começou a ser idealizado no início de 2022, no final de 2022 foi gravado e só foi finalizado no final de 2023. Mas ele realmente só entrou em circuito de festivais em 2024”, afirma Marthina.

Para Tuca Stangarlin, artista plástico, modelo e ator como profissão mais recente, que interpreta o Homem, em Palavras Cruzadas, participar do projeto foi uma experiência única. “Eu me senti muito em casa, foi onde eu me senti ator pela primeira vez”, conta. “A Marthina tinha uma segurança muito grande do que ela queria do meu personagem, que é um personagem pesado, autoritário. Ela sabia exatamente o tom, até que ponto a gente podia ir ou não. Então, para mim, como muito iniciante, me deu uma segurança enorme”.

Já Nenê Borges, atriz “fresca”, como gosta de falar referindo-se a uma atuação recente, interpreta a Senhora, protagonista de “Palavras Cruzadas”. Segundo ela, a Senhora dá vida aos sentimentos de Marthina e também de Nenê, já que ambas compartilhavam da mesma angústia e medo de perder quem amavam na pandemia. “A Marthina me falava ‘às vezes eu me sinto como uma criança perdida, desesperada, responsável pelos meus pais, pela minha família’, e eu me sentia da mesma forma. Então, quando a gente começou a gravar, eu trouxe toda essa angústia”. Mas, afirma: “Se eu fosse fazer hoje, faria diferente. Acho que era muita angústia”.

Marthina e Bhadra afirmam estarem satisfeitas com o resultado. “Foi a minha primeira experiência com uma produção grande, e foi bem desafiador. Mas eu gostei muito de fazer, e acabou, depois, virando o meu projeto de TCC também, que eu defendi a direção de arte”, afirma Badra. E Marthina declara que tem muito carinho pelo projeto, pois “ele é uma conclusão de vários processos pessoais com relação a esse luto que eu vivi em relação ao meu avô”.

A professora Patrícia de Oliveira Iuva pontua a importância da valorização da produção audiovisual brasileira e das políticas públicas. “Ainda que a Universidade tenha muitas dificuldades, a questão das políticas públicas para o audiovisual tem ajudado muito na produção dos curtas”. E completa: “Tem uma mudança de postura na valorização da produção cultural brasileira associada ao audiovisual, entendendo que é possível fazer e que existe um mercado”.

As inscrições para o festival ocorrem a partir de fevereiro e março, todos os anos, por meio de edital e envio de documentações. A divulgação é feita pelo perfil do Instagram do Assimetria (@festivalassimetria). Segundo Patrícia, a ideia é que a próxima edição ocorra com parceria da Universidade Federal de Integração Latino-Americana (UNILA).

Exibição dos curtas na UFSM. Foto: Patrícia de Oliveira Iuva.

Jéssica Schmitt

Estudante de Jornalismo na UFSC. Meus gostos variam entre literatura nacional, cinema e esoterismo.

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