
Apesar da frente fria que atingiu o sul, o clima não foi obstáculo para o público que lotou os palcos do Arvo Festival no dia 1, em Florianópolis. A energia dessa edição está diferente — talvez pelo sabor doce de caju deixado no ar pelo espetáculo de Liniker, ou pelos ritmos de funk embrasados por Os Garotin. Nem os 17ºC nos termômetros foram capazes de conter o entusiasmo: a música invadiu a cidade e o público apareceu com seus looks mais criativos para celebrar o som, o estilo e a cena cultural que o Arvo vem construindo.
Vemos a estação de outono tomar conta dos outfits — algo incomum, já que outros festivais pelo país tendem a acontecer em épocas mais quentes. Para aguentar a friaca, camadas e mais camadas de tecido, muita sobreposição. Há referências ao Boho Chic e sua fluidez nos tecidos, remanescente do sucesso internacional do festival Coachella, na Califórnia. O country continua forte com muitas franjas e botas texanas, estilo Western que ganhou força com o lançamento do álbum Cowboy Carter (2024) de Beyoncé.
Os tons terrosos e sóbrios das cores outonais foram predominantes, e havia couro e jeans para todo lado, mas foram os acessórios que realmente chamaram atenção. Óculos estilizados, bonés, meias coloridas, camisas bordadas, cachecóis e lenços marcaram presença.
Aliás, os lenços foram o grande destaque do dia. Pode ser um efeito de Pharrell Williams como diretor criativo da Louis Vuitton, ou uma febre vintage da Gucci — talvez até mesmo um throwback nos visuais do personagem Chuck Bass, de quando Gossip Girl era sucesso nos anos 2000. A verdade é que, em diferentes estampas, amarrações e cores, os lenços foram a peça chave no styling dos looks. Podendo ser estilizado de mil e uma maneiras diferentes, a versatilidade fez com que muitos tirassem o acessório do guarda-roupa.
Ainda na pandemia, vimos o Old Money surgir com uma das trends mais fortes das redes sociais. O desejo de fazer (ou se sentir) parte de uma elite social e transmitir essa informação por meio de peças atemporais fez o “aesthetic” furar a bolha e se tornar popular entre o grande público até os dias de hoje. O lenço — que remete aos ícones de moda dos anos de 1950 e 60 — se encaixa perfeitamente como símbolo dessa ideia de luxo e tradição, agora reinterpretado de formas mais criativas.

Tudo isso remete às coleções recentes da novata francesa Casablanca Paris, que trouxe uma onda de elementos de luxo esportivo às roupas casuais, com estampas gráficas vibrantes, cores marcantes e acessórios que beiram o exagero. Em outros tempos, o maximalismo da marca seria too much. Mas hoje, itens como o “Tennis Club Medium Silk Scarf” são objeto de fascínio, e as referências ao clima tropical e esportes podem ser facilmente importadas à cultura da Ilha da Magia.

Enquanto São Paulo segue como capital da moda no Brasil — ditando tendências e abrigando os principais desfiles e movimentos da indústria — eventos como o Arvo desafiam esse eixo tradicional, mostrando que o estilo também pulsa longe dos holofotes usuais. Talvez, estejamos passando tempo demais procurando o diferente no que já é habitual. E, talvez, o Arvo tenha mostrado que é possível olhar para Floripa com novas lentes, procurar na cidade tendências únicas que não vemos facilmente em outras metrópoles. Esperamos ansiosos pelo segundo dia do festival, agora sabendo que mesmo durante o frio, o verão ainda é aqui.
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