Júlia Graboski

Nesta semana, cerca de 50 estudantes, quase um terço dos matriculados no curso de Artes Cênicas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), participaram de uma mobilização de sete dias em frente à reitoria. A ação, aprovada em assembleia estudantil, teve como objetivo chamar a atenção da administração central para os graves problemas estruturais enfrentados pelo curso.
O principal foco das reivindicações foi o desabamento do teto da Caixa Preta, laboratório cênico da universidade, ocorrido no início de junho após um fim de semana de chuvas intensas. A queda da estrutura foi identificada por um técnico da UFSC e revelou tubulações expostas, ferragens aparentes e danos no isolamento acústico do espaço.
O espaço, situado no térreo do Bloco D do Centro de Comunicação e Expressão (CCE), em Florianópolis, estava vazio no momento do colapso, mas o risco de acidentes foi real. “Se tivesse alguém lá, poderia ter se machucado seriamente”, disse João Felipe Pereira dos Santos, aluno da 5º fase do curso.
O problema não é novo. Segundo estudantes, há pelo menos dois anos o local sofria com infiltrações recorrentes. “A gente colocava baldes e secava o chão de madeira para evitar danos maiores. O mofo já tomava conta das paredes”, afirma João. Parte da estrutura que caiu não atingiu o chão, mas ficou suspensa em um mezanino, onde ficam armazenados os equipamentos de iluminação.
O espaço foi interditado pela prefeitura do campus e está sem previsão de reabertura. A interdição agrava a crítica situação de falta de espaços adequados para as atividades do curso, que também perdeu há anos o uso do Teatro Redondo. “A Caixa Preta era o único espaço exclusivo que ainda tínhamos para ensaios e apresentações. Agora, nem isso”, lamenta João.
A queda forçou a realocação de apresentações e ensaios de final de semestre para salas de aula, teatros externos e até mesmo para ruas, o que, segundo os alunos, faz parte do fazer teatral, mas é limitado pelas condições climáticas. O curso de Cinema também utilizava o laboratório ocasionalmente, o que amplia o impacto da perda.
Além da Caixa Preta, os estudantes denunciam uma série de problemas estruturais no Bloco D do CCE, onde funciona o curso. “Ficamos dois anos sem água no prédio. Hoje, temos apenas um bebedouro funcionando, quando não está quebrado, e um elevador que para frequentemente, às vezes com pessoas dentro”, relata o presidente do Centro Acadêmico de Artes Cênicas (CAAC). A situação é agravada pela falta de acessibilidade, prejudicando estudantes, docentes e servidores.
Apesar da mobilização e de uma carta formal enviada por e-mail pelo CAAC à reitoria — sem resposta até o momento —, os estudantes seguem sem retorno oficial da gestão. A nova direção do CCE se comprometeu a dar continuidade ao pedido de dispensa de licitação feito pelo atual diretor, professor Fabio Luiz Lopes Da Silva, para as obras.
O próximo passo do movimento estudantil é tentar agendar uma reunião com o reitor da UFSC, presencialmente, por meio do Diretório Central dos Estudantes (DCE), para entregar em mãos a carta protocolada. “Se a desculpa for que ele não viu o e-mail, agora vai ver pessoalmente”, afirmam os representantes do centro acadêmico.
Enquanto a universidade não se posiciona, os alunos continuam sem espaço adequado para ensaiar e se apresentar.
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