Super Pato Gay e seus amigos: aves da comunidade LGBT+ lutam contra o crime em ilustrações no X

Artistas criam super-heróis que brincam com orientação sexual e identidade de gênero, no antigo Twitter

Marcelo Pedrozo

Na última semana do Mês do Orgulho de 2025, a rede social X (antigo Twitter) viu surgir uma série de ilustrações misturando aves, super-heróis e a comunidade LGBT+. Tudo começou em uma postagem do ilustrador Vitor Couto, em 15 de junho, que apresentava o “Super Pato Gay”, um pato herói que avisa: “Eu gosto de justiça… e de macho”. O post já tem mais de 60 mil curtidas e inspirou diversas outras ilustrações, também publicadas no X, mostrando aves de diversas orientações sexuais e identidades de gênero lutando contra o crime.

Ilustração por @coutoartdump.

Alguns dos novos personagens inspirados no Super Pato Gay foram a Super Cisne Lésbica, a Super Gralha Assexual, o Super Bem-te-Bi e as Trans Espiãs Demais.

A brincadeira ainda apresentou personagens que preferiram seguir o caminho da vilania, como o Pombo Não-Binário do Mal, o Poderoso Bico-de-Sapato e a Maligna Coruja Andrógena. Há ainda os vilões homofóbicos, como o Dr Marretero.

Teve quem preferiu redesenhar o herói original, o Super Pato Gay, em versões em estilos diferentes e até em um crossover com Perry, o Ornitorrinco, do seriado Phineas e Ferb. Seja como for, a trend dominou o X/Twitter, com várias ilustrações atingindo milhares de curtidas.

Para Couto, a repercussão do Super Pato Gay foi uma grata surpresa. “Eu fiquei até bobo, me senti uma criança. É muito legal ver a galera se empolgando e criando”, diz. O ilustrador ficou feliz ao ver até pessoas que não desenham com frequência entrando na brincadeira. “É legal reforçar que todos podem desenhar, ainda mais nessa época onde todo mundo quer botar um prompt no ChatGPT e ver uma merda cuspida por robô.”

Nos últimos meses, trends de imagens geradas por inteligência artificial (IA) vêm dominando a internet, resultando em críticas de ilustradores que apontam como a IA generativa causa a desvalorização tanto de seu trabalho quanto da expressão artística, além dos danos ao meio ambiente. A onda das aves LGBT+ vem na contramão desse fenômeno e, na opinião de Couto, mostra que as pessoas ainda têm prazer em fazer arte com as próprias mãos.

A ideia do personagem original surgiu a partir de uma revolta de Couto pela “castração” dos filmes de super-heróis da atualidade, onde mesmo personagens que são apenas sutilmente gays são alvo de dezenas de reclamações conservadoras sobre a “cultura woke”. “Super-herói hoje em dia, no cinema pelo menos, são corpos esculturais e vaidosos sem desejo nenhum. Ninguém transa e ninguém sente tesão. Achei que seria engraçado um bicho (meio) antropomorfizado, super-herói e completamente aberto e seguro sobre a sua sexualidade e o desejo que ele tem. Ele combate o crime e gosta de macho mesmo, gosta de sexo e é isso.”

Depois que a postagem original viralizou, Couto recebeu mensagens sugerindo que fizesse quadrinhos inteiros do Super Pato Gay, mas explica que só pretende continuar trabalhando com o personagem em algumas tirinhas, quando tiver boas ideias. “Nem era pra ser um personagem recorrente. Eu não costumo repetir a mesma coisa. Acho que o Super Pato Gay é, tipo, um momento. Eventualmente vai esfriar e tá tudo certo.” Enquanto isso, a sede do super-herói por justiça e sexo continua estrelando algumas tirinhas publicadas no perfil de Couto no X.


Marcelo Pedrozo

Estudante de Jornalismo da UFSC e apaixonado por histórias. Escrevendo um livro como forma de terapia. Editor-chefe do Caderno Cultural Expressões.

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