Clara Gonçalves

O ator e dramaturgo Lucas Brisot, estudante da sétima fase do curso de Artes Cênicas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), é o responsável pela escrita da peça Migalhas, fruto de um trabalho na disciplina de Processos Criativos. A obra foi apresentada em formato de leitura dramática durante a XII Mostra Acadêmica de Artes Cênicas (Maçã) da universidade e propôs diversas reflexões sobre as complexas relações humanas.
Em entrevista ao Caderno Cultural Expressões, Lucas compartilhou alguns detalhes sobre o processo de criação da peça.
CADERNO EXPRESSÕES – Além de escrever, você também atua. Como foi o processo de escrita de Migalhas? Considerando não apenas a perspectiva de diretor, mas também de ator, você sente que essa experiência influenciou e facilitou o desenvolvimento da peça?
LUCAS – Com certeza o fato de eu também atuar influencia na maneira como eu escrevo. A verdade é que eu gosto de escrever diálogos que eu gostaria de atuar, ou assistir. Acredito que é necessário você fazer algo que gostaria de assistir/escutar/olhar, caso contrário só vai ficar ruim. Eu gosto de diálogos rápidos e mais naturais, e de personagens com características marcantes. Isso transita entre atuação e escrita.
CADERNO EXPRESSÕES – O texto foi apresentado ao público por meio de uma leitura dramática. Ele foi escrito com esse propósito desde o início ou há planos de transformar essa abordagem e levá-lo aos palcos no futuro?
LUCAS – Todas as dramaturgias que eu escrevi foram feitas com o propósito de serem encenadas. Caso não tivessem esse propósito, eu teria escrito uma narrativa, um conto ou um romance. O feedback que recebi da leitura dramática na Maçã me fez ter muita vontade de montar a peça, é algo que penso em fazer em um futuro próximo.
CADERNO EXPRESSÕES – Como foi o processo de direção dos atores para um texto que, inicialmente, não seria encenado? De que forma você os auxiliou na construção dos personagens? O trabalho envolveu o uso do corpo ou o foco permaneceu exclusivamente no texto?
LUCAS – A direção de uma leitura dramática difere de uma direção normal pela falta de todos os outros elementos que iriam compor uma peça. Cenário, figurino, sonoplastia, luz, tudo isso são elementos faltantes. Mesmo que eu tenha direcionado os atores quanto a roupas e tenha feito uma iluminação básica para a apresentação, foi tudo muito simplista. Existiu da minha parte direcionamento para os atores quanto a características dos personagens, maneira de falar e se portar, motivações e como é a relação com cada um dos outros personagens. Mas acredito que grande parte do trabalho de direção é saber em quem confiar para cada função, e conseguir convencê-los de fazer parte do seu projeto. Eu consegui reunir uma equipe competente, um bom elenco de pessoas em cujo trabalho eu confio e que consequentemente tornaram esse processo o mais fácil possível.
CADERNO EXPRESSÕES – Um bom repertório é essencial para a escrita de um texto rico e completo. Houve algum artista ou escritor que o marcou de maneira especial durante a criação dessa obra? Como essa influência se manifestou no seu processo criativo?
LUCAS – Existiram peças, livros e filmes que inspiraram na história, mas acredito que o que mais inspirou na maneira de escrever, principalmente os diálogos e o ritmo que eu gostaria de trazer para esse projeto, foi o filme Deus da Carnificina, de Roman Polanksi, que por sua vez foi baseado originalmente na peça de mesmo nome escrita pela Yasmina Reza.
Entrevista produzida na disciplina de Crítica em Artes Cênicas, sob a orientação da professora Dirce Waltrick do Amarante.
Deixe um comentário