Prefeitura de Florianópolis pode ser impedida de receber recursos da Política Nacional Aldir Blanc

Para não perder os próximos recursos, prefeitura deve aplicar os 3,5 milhões presentes em caixa até final de junho; presidente da Fundação Franklin Cascaes afirma que o cronograma segue conforme o planejado

Sarah Pretto e Jéssica Schmitt

Na tarde de 22 de maio, ocorreu um ato em defesa da cultura, organizado pelo Movimento Ocupa Cultura, em frente à Prefeitura Municipal de Florianópolis (PMF). A manifestação aconteceu em resposta à inércia da atual gestão, com R$3,5 milhões parados no caixa da prefeitura desde outubro de 2023. O valor é referente ao primeiro ciclo da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), e, caso a Prefeitura de Florianópolis não faça uso de pelo menos 60% desse valor até 30 de junho, o dinheiro será devolvido ao Governo Federal e a PMF ficará impedida de receber os recursos do segundo ciclo da lei.

A PNAB, conforme a cartilha disponibilizada no portal oficial do governo, é uma iniciativa do Governo Federal para apoiar o setor cultural e estruturar o sistema federativo de financiamento à cultura mediante repasses de recursos pela União aos estados, municípios e Distrito Federal, que lançam editais para trabalhadores da cultura inscreverem seus projetos. Além disso, a cartilha explica e descreve como acontecem os repasses de recursos para os trabalhadores da cultura. No caso de Florianópolis, os R$3,5 milhões precisam ser aplicados na realização de projetos como exposições, festivais, festas populares, feiras e espetáculos. Além disso, o valor cobre também a concessão de prêmios mediante seleções públicas, cursos de formação de agentes culturais e realização de levantamentos, estudos, pesquisas e curadorias nas diversas áreas da cultura. 

Em 22 de maio, logo após a manifestação, a Fundação Franklin Cascaes publicou em suas redes sociais e em seu site uma nota informando os próximos passos para o uso dos 60% da verba para contratações antes do prazo final. Com os editais dos pareceristas, Cultura Viva, Mestres do Saber e Seu Lidinho, será alcançado o valor necessário para se manter no segundo ciclo da PNAB e o repasse das oficinas e festivais ocorrerá posteriormente. “Tudo está ocorrendo conforme o planejado e o previsto”, afirma Nana Martinelli, presidenta da fundação. O segundo ciclo da PNAB, citado pela presidenta da fundação, refere-se aos recursos a serem repassados ainda em 2025.

Anna Viana, artista e ativista cultural que estava presente no ato do dia 22, afirma que as justificativas da Prefeitura em relação ao atraso das licitações foram a troca de gestão da fundação e a desistência dos pareceristas. Segundo ela, essa desistência ocorreu devido às condições da contratação, que exigiam avaliação de um grande volume de projetos em prazos apertados. E reflete: “o que fica para mim é como que acontecerão essas contratações agora. Porque, como você precisa de um processo licitatório, você tem que abrir e chamar, tem que publicar no Diário Oficial, você precisa de todo o processo seletivo para a contratação extraordinária. Mas quem a fundação vai chamar como parecerista?”.

Entramos em contato com a Secretaria de Cultura do município para entender o motivo da demora do repasse das verbas e quais serão os próximos passos até o dia 30 de junho, mas não obtivemos resposta.

Anna Viana salienta que a cultura não é uma prioridade da gestão atual. “Olhando friamente para a gestão do Topázio [Neto, PSD], as cadeiras e indicações, eles vêm muito do lugar da inovação e do desenvolvimento econômico. Não são pessoas preocupadas com a cultura, são pessoas preocupadas com o turismo”.

Manifestantes exibem cartazes em frente à PMF em protesto à demora no repasse da verba da PNAB. Foto: Sarah Pretto.
Elaine Sallas (esq.), representante do movimento Ocupa Cultura, reivindica verba da PNAB em conversa com Roseli Pereira, coordenadora executiva da Fundação Franklin Cascaes, em frente à PMF. Foto: Sarah Pretto. 

Sarah Pretto

Estudante de Jornalismo na Universidade Federal de Santa Catarina. Vivo entre palavras, ritmos e imagens.

Jéssica Schmitt

Estudante de Jornalismo na UFSC. Meus gostos variam entre literatura nacional, cinema e esoterismo.

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