
Tem 20 anos no máximo. Usa colete amarelo sobre blusa de manga comprida cinza, calça preta e tênis de igual cor. Joga, com força, um pacote de gelo no chão. Mais uma vez, para que rompa. Se reúne em um círculo com outras 12 pessoas com o mesmo uniforme. À frente, um homem parrudo de camiseta e boné vermelhos que estampam uma marca de cerveja dá ordens e orientações. O guri escuta e, depois, como os outros, se dispersa entre os 10 metros de comprimento por 4 de largura do bar do show.
Atende, primeiro, uma mulher loira de cerca de 1 metro e 80. Ela veste um macacão amarelo e jaqueta jeans. Não consigo ver seus sapatos. Ela está do outro lado, no setor VIP. Pede uma cerveja. Não, duas, a amiga complementa. O guri recolhe os tickets, se vira, abre o freezer, seleciona duas latas, busca os copos, enche, caminha até o balcão e os entrega.
No setor VIP, uma guria, com o mesmo colete, mas uma placa gigante que emerge de suas costas e diz “Caixa”, cobra dez cervejas de dois caras muito parecidos: cabelo curto degradê, barba bem feita, shape definido, camisetas e calças justas. A guria imprime as notas. Eles, antes de entregar ao guri, tiram uma foto ostentando as notas com o equivalente a R$ 200,00 em bebidas alcóolicas.
Do outro lado do balcão, uma mulher loira, usando óculos e blusa colorida, grita:
– Ei! Aqui! Psiu! Moço!
Ele escuta, caminha até ela. Recebe o ticket, vai até o freezer, busca a cerveja, entrega a cerveja. O homem parrudo de roupa vermelha se aproxima dele. Gesticula. Ele não deveria atender a pista comum.
A sequência se repete ao longo da noite. À medida que a casa de shows vai enchendo, o trabalho fica mais intenso. Mais pedidos. Mais hostilidades do homem parrudo de roupa vermelha. O DJ encerra a set, e a banda sobe ao palco. Ele não percebe, segue servindo cervejas. Até que, já pelo fim, os músicos tocam aquela música. Ninguém quer mais cervejas, e o homem parrudo de roupa vermelha já não está perto. O guri, que até então não havia prestado atenção no som que precisava ignorar para atender os clientes, olha para o vocalista. Se vidra por cinco segundos. Levanta um pé, depois o outro, e dança enquanto uma guitarra sola desconcertantemente. Que bom que o homem parrudo de roupa vermelha não viu, pensa após 3o segundos de baile.
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