Um tributo a Shelley Duvall: “O Iluminado”

Com destaque para as performances cênicas, o longa se tornou emblemático para o cinema de terror e deixou sua marca na cultura pop

Luiza Cidade Souza*

Aos 75 anos de idade, a atriz Shelley Duvall morreu em julho deste ano. (Foto: Warner Brothers)

“O Iluminado”, originalmente escrito por Stephen King, foi adaptado para o cinema em 1980 por Stanley Kubrick, que deu uma reviravolta nas narrativas cinematográficas de horror. É estrelado por Jack Nicholson e Shelley Duvall, lendária atriz norte-americana, que, após sua morte em 11 de julho deste ano, deixa como legado um desempenho excelente tanto nesse filme quanto em “Popeye” (1980).  

O longa de Kubrick tornou-se um clássico. A história se centra na família Torrance: Jack, Wendy e seu filho pequeno, Danny. Eles se mudam para o remoto Hotel Overlook, onde Jack aceitou um trabalho como zelador de inverno. Durante sua estadia, o hotel, que possui uma história sobrenatural, exerce uma influência sobre Jack, levando-o à loucura.

Mas o que torna a obra tão encantadora e notória dentro e fora da comunidade apaixonada por terror? Primeiramente, é indispensável citar a abordagem visual pensada por Kubrick, incluindo as tomadas contínuas e formas inovadoras que deixam o espectador com uma sensação de tensão e suspense. Sem sombra de dúvidas, a atmosfera claustrofóbica e impactante contribui para atrair a atenção do público — e continua atraindo. 

É quase impossível não evidenciar o trabalho cênico dos atores do elenco, em especial Shelley Duvall. A performance da atriz é marcada por uma intensidade emocional que se reflete em suas expressões faciais, linguagem corporal e voz. As cenas em que Wendy, sua personagem, enfrenta Jack, principalmente a famosa cena da escada onde ela toma um taco de beisebol, são exemplos notáveis de sua capacidade de transmitir terror e desespero. A tensão e a urgência em sua atuação são palpáveis, aumentando a gravidade das situações que enfrenta.

Vale ressaltar a importância do bom uso da trilha sonora. Uma das características mais marcantes da obra, com certeza, é a escolha de músicas que destoam, são atonais. Ou seja, a música complementa a narrativa, reforçando o suspense em momentos-chave. A sensação da mistura de sons e estímulos visuais é carinhosa e metaforicamente apelidada de “fazer o estômago dar mortais”. Essa construção lenta da tensão, sem depender muito de sustos fáceis, influenciou vários cineastas a explorar abordagens mais sutis e psicológicas para o terror.

Além disso, “O Iluminado” certamente conseguiu furar a bolha e viajar entre gêneros. Leon Cunha, estudante do ensino médio e admirador do filme e do gênero de terror consegue perceber traços desse legado sendo perpetuado em outras obras. “Em ‘Toy Story’, quando Woody e Buzz ficam presos na casa de Sid e procuram por uma saída no corredor da casa, é criada uma semelhança absurda com a cena do filme [“O Iluminado”], na qual Danny corria com seu triciclo pelo corredor do Hotel Overlook”, exemplifica Leon. O estudante cita também um momento de outra animação da Pixar, “Procurando Nemo” (2003), em que o personagem Bruce, após uma cena de perseguição, diz “aqui está Bruce” — uma menção direta ao filme de Kubrick.

A cena à esquerda, de “Procurando Nemo”, referencia a da direita, de “O Iluminado”. (Fotos: Pixar Animation Studios/Warner Brothers)

Por fim, é possível afirmar que O Iluminado possui uma influência gigantesca para o mundo do terror, tanto para espectadores quanto para atores. O personagem principal, Jack, começa o filme como um homem normal. Sua descida à loucura, que é gradual e construída de maneira realista, se tornou um modelo para muitas histórias de terror psicológico. Por esse motivo, Beatriz Alves, fã assídua de filmes desse gênero, afirma que: “Jack Torrance andou para que muitos pudessem correr.”

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