Luiza Cidade Souza*
Na adaptação da peça “Por que o guarda-chuva?“, de Marcelo Bertuccio, encenada pelos estudantes de Artes Cênicas da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Joana Zanotto Sabbá e Gabriel Araújo, o enredo se desenvolve em torno de um casal que discute sobre o porquê da mulher ter levado um guarda-chuva ao local onde se encontravam. A apresentação ocorreu em 20 de março no Varandão do Centro de Comunicação e Expressão (CCE) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e fez parte da programação da XI Mostra Acadêmica de Artes Cênicas (MAÇA) da UFSC.
Originalmente sobre um relacionamento proibido entre duas mulheres, a versão adaptada da peça remete ao conceito de “Teatro do Absurdo”, sem muito sentido em suas falas literais, mas carregado de diferentes significados. O diálogo, por sua vez, dependia do repertório do público para a identificação e interpretação do texto, à maneira que o espectador acha mais coerente. Portanto, era necessária uma boa atenção, tanto por ser uma peça demonstrada ao ar livre quanto por ser uma narrativa que não entregava suas mensagens de forma objetiva e literal.
Agora, de que modo essa adaptação poderia lhe fisgar? O fato de não usar dos palcos clássicos italianos foi algo que despertou a curiosidade das pessoas que passavam por ali. Muitas vezes nem paravam para assistir, mas corriam os olhos, como se inspecionassem o que estava acontecendo em pleno campus da UFSC.
As características do teatro ao ar livre impactam a experiência do público, com a baixa necessidade de luxuosos recursos técnicos, trazendo a interpretação dos atores como uma prioridade. Além disso, promove uma arte acessível a um grupo maior de pessoas, já que parte dos membros do corpo discente da faculdade mal possuem acesso ou tempo para acessar manifestações culturais.
Segundo André Carreira, professor de teatro na UDESC, “É nesse território híbrido que ocorre a aproximação entre o teatro de rua e a cultura popular. De fato, essa aproximação não é somente temática. Pelo contrário, ela se dá no terreno das regras de funcionamento do espetáculo e das modalidades de atenção do público. A interferência da audiência tem, nesse caso, uma influência muito grande na constituição do espetáculo”. Esse é um ponto perceptível na preparação do ator com projeção vocal mais desenvolvida e presença cênica mais pontual e chamativa, devido aos diversos contratempos que a natureza e o ar livre proporcionam.
Por fim, o espetáculo propõe diversas reflexões e deixa a mente voar livremente sobre os significados embutidos no diálogo dos personagens, fluindo entre uma simples conversa sobre o clima ou até mesmo sobre um relacionamento de abuso psicológico e manipulação. Cabe ao espectador traçar sua própria narrativa.
*Estudante da terceira fase de Artes Cênicas na UFSC, atriz de teatro (2017-presente) e de audiovisual.
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