Walter Benjamin e a juventude: uma crítica ao isolamento e à educação tradicional

Em “Uma palestra não proferida a jovens estudantes”, o filósofo reflete sobre a relevância da experiência romântica na formação dos jovens

Elerson Mario Silva Gomes*

Walter Benjamin sentado em uma biblioteca, escrevendo em papéis sobre a mesa.
Inspirado por autores marxistas e associado à Escola de Frankfurt, Benjamin foi filósofo, ensaísta, tradutor e crítico alemão. (Foto: Gisèle Freund/Reprodução)

Walter Benjamin foi um dos mais importantes críticos literários e filósofos do século XX. Ele deixou uma obra vasta e diversificada, abrangendo temas como estética, história, literatura e filosofia. Um de seus textos que suscita particular interesse é “Uma palestra não proferida a jovens estudantes”, parte do livro “Literatura”, com tradução, organização e prefácio de Maria Aparecida Barbosa. 

Benjamin foi profundamente influenciado pelo romantismo alemão, movimento literário e filosófico que surgiu no século XVIII, na Europa, que valorizava a emoção, a subjetividade e a natureza, em contraste com o racionalismo e a ordem da ilustração. Ele via no romantismo uma tentativa de resgatar a totalidade da experiência humana, a qual estava sendo fragmentada pela modernidade e pela industrialização.

“Uma palestra não proferida a jovens estudantes” parte de uma reflexão sobre esses conceitos românticos junto à experiência e o papel dos jovens na sociedade. Essas concepções são abertamente criticadas em sua obra e podem ser vistas em diversos aspectos — como, por exemplo, nas visões idealistas dos jovens. Em relação a isso, ele destaca a “juventude isolada da realidade” e a educação. São enfatizados os aspectos desumanizadores da modernidade e a rigidez do sistema educacional tradicional, ecoando as preocupações românticas com a alienação, a perda do contato com a natureza e as emoções humanas: 

“[…] a escola nos impõe a eterna pose ideal, à sua vazia solenidade, que não podemos mais ser, ao mesmo tempo, nobres e livres”. 

Benjamin defende uma educação que valorize a experiência prática, a flexibilidade, a criatividade e o pensamento crítico, além de preparar os jovens para serem agentes de mudança social, capazes de questionar e transformar a sociedade em que vivem.

Em outras palavras, o crítico adoraria que a juventude ouvisse e pudesse ter uma visão diferente da sociedade, bem como inicia o seu texto: “se refletirmos sobre nós mesmos quanto sociedade, seríamos românticos”. Mas o que é ser romântico nos dias atuais para nós jovens estudantes? A sociedade aderiu a um conceito contraditório do romantismo. As características deste movimento ainda são muito presentes no cotidiano das pessoas, mas não são concretizadas de forma definitiva, como praticavam os românticos. A valorização da experiência individual, por exemplo, a qual priorizava a exploração de emoções, intuições e vivências pessoais como fonte de conhecimento e entendimento do mundo, passou a ser uma característica egocêntrica. 

Em suma, as ideias de Benjamin permanecem incrivelmente relevantes nos dias de hoje, em uma era onde a educação ainda luta para se adaptar às rápidas mudanças tecnológicas e sociais. Sua visão nos encoraja a repensar nossas abordagens educacionais e a valorizar a experiência prática como uma fonte vital de conhecimento.

Ao refletirmos sobre o texto de Benjamin, somos convidados a adotar uma postura mais crítica e consciente em relação à nossa própria formação e ao papel que desempenhamos na sociedade como jovens estudantes. Sua mensagem é um chamado à autonomia intelectual e à coragem de questionar as normas estabelecidas, promovendo uma educação que prepare verdadeiramente os jovens para enfrentar as complexidades do mundo contemporâneo.

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