Povoado Poesia — Materialização de sonhos fantásticos por meio da beleza no desfile da Foz

Cores, brasilidade e fantasia são elementos essenciais na caracterização dos habitantes do povoado imaginário criado pela Foz para o SPFW

Matheus Alves

Foto: Matheus Alves

Um vilarejo perdido no sertão, cercado pelo árido cerrado, folclore vivo, memória e fantasia — assim é a cidade fictícia criada por Antônio Castro para apresentar a nova coleção da grife Foz na 60ª edição do São Paulo Fashion Week (SPFW). A concepção desse lugar nasce do imaginário coletivo do que é o interior do país, desde as tradições culturais afetivas até a religião. “Nós vamos trabalhar com a desconstrução, com o sonho”, explica a maquiadora Maxi Weber, que assina a beleza do desfile. 

O trabalho é transformar elementos do cotidiano sertanejo em símbolos poéticos. Nesse universo inventado, o sertão popular se torna espaço para brincadeira, na qual a maquiagem é essencial para contar história, ser palavra que transpassa o cordel. Com uma equipe de 16 pessoas, Maxi tomou para si a tarefa de materializar esses sonhos e tornar a beleza — desde o cabelo até os contornos e sombras — um catalisador desses saberes e criativos que estão espalhados pelo nordeste do Brasil.

Segundo Antônio, o projeto foi um exercício de desprendimento na construção de cores, usando tons quentes e saturados sem nenhum pudor. Diferente da última coleção, mais romântica, muito bucólica e feminina, a FOZ traz para essa semana de moda um ar mais lúdico e infantil, no qual o maximalismo rege estampas, curvas e acessórios.   


Acho que tem uma brincadeira com esse universo da criança e de como a gente coloriu a coleção, de como as cores foram combinadas, muito livres de um preconceito cromático e predefinições do que a gente acha que combina com o quê”

O Caderno Cultural Expressões acompanhou de perto toda preparação do desfile, desde a chegada dos modelos até o momento final na passarela, e recordou em imagens o momento da criação da beleza imaginada para a coleção. 


O processo começa com o teste de beleza, feito com antecedência antes do desfile. Já no backstage, Maxi passa para sua equipe todos os passos para montar o look final a partir das imagens de referência feitas no teste. Tudo é compartilhado nos mínimos detalhes, desde a escolha da paleta de cores, sombras, contornos e o penteado para os diferentes tipos de cabelos. (Foto: Matheus Alves)
O primeiro passo é montar as bancadas, distribuir as maquiagens e se preparar para chegada das modelos. (Foto: Matheus Alves)
Para o cabelo, a regra era clara: muito gel. O look final, segundo Maxi, devia ser sofisticado e brilhante, finalizado em coque alto nos modelos com cabelo comprido. (Foto: Matheus Alves)
O casting de modelos para o desfile da Foz era diverso e contou com diferentes peles, texturas de cabelos e comprimentos. (Foto: Matheus Alves)
O espaço do camarim era apertado, os modelos sentavam onde davam entre os intervalos de cabelo e maquiagem, Segundo Carol Renovato, maquiadora que trabalha com Maxi há cerca de dois anos, o tempo é corrido, então é preciso se concentrar para fazer tudo o mais perfeito possível. “Antes eu me desdobrava em mil para poder fazer o máximo de modelos, agora não”. Quinze minutos (ou menos) é o tempo que ela relatou demorar para terminar cada maquiagem.
“É onde nós queremos chegar, isso é o sonho”, afirma Maxi, lembrando que a beleza é extensão direta do conceito criado por Antônio para coleção. Tecidos, estampas, caimentos, padrões e a falta deles também, tudo conversa e amplia a cultura desse vilarejo ideal e poético que é tão familiar ao olhar brasileiro sobre o Nordeste. (Foto: Matheus Alves)
A ideia era trazer luz para o rosto, mas sem utilizar iluminadores. A pele é preparada sem base, apenas com corretivo em áreas de vermelhidão e acne. O grande destaque fica para as sobrancelhas marcadas e desenho levemente puxado para cima. Os lábios são em vermelho vivo, batom borrado. (Foto: Matheus Alves)
Para fazer as sobrancelhas os maquiadores abusaram do uso de lápis preto e cola para deixar os fios alinhados. (Foto: Matheus Alves)
Após cabelo e maquiagem, os modelos vão para a sala de troca onde põe as roupas e fazem os ajustes finais necessários com auxílio da equipe do estilista, (Foto: Matheus Alves)
O último passo é o design das unhas, que são colocadas no final de todo processo da beleza e vestimenta. Os modelos aguardam em pé para evitar que a roupa amasse antes de entrar na passarela. (Foto: Matheus Alves)
“A gente usa dos saberes e fazeres que já são muito parte da do repertório da FOZ. É uma forma de utilizar desses estereótipos, códigos e signos da cultura brasileira popular. Um povoado que não existe, mas que poderia existir em qualquer lugar do interior do país”, compartilha Antônio sobre sua coleção, que nasce do trabalho em conjunto com artesãos. Assim como a foz de um rio representa o encontro das águas, o trabalho da beleza é tornar real esse sonho criado pela marca, trazido à luz pela equipe de Maxi Weber e outros colaboradores. (Foto: Matheus Alves)

Matheus Alves

Estudante de Jornalismo na Universidade Federal de Santa Catarina, adora moda, fotografia, R&B e gastronomia.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *