Longe de Nós, a cultura molda uma nova São Paulo 

Para quem são construídos os espaços culturais da capital paulista senão para classe trabalhadora?

Matheus Alves

São Paulo está mudando. Na verdade, sempre esteve. A cidade se transforma diante dos nossos olhos, tão rápido que, em meio a correria da vida urbana, a mudança passa despercebida. Quando sobra tempo, há quem vá aos parques, ande de bike ou fuja para os shoppings. Para alguns outros, os museus ainda são uma opção –  um clássico que nunca sai de moda. Ao total, são 683 museus, de acordo com o Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM), mas sempre há espaço para mais um. 

Assim, no epicentro dos movimentos culturais de São Paulo, nasce a Casa Bradesco — novo espaço artístico-cultural localizado dentro do complexo de luxo Cidade Matarazzo. Construída ao lado da Avenida Paulista, mais de quatro mil metros quadrados de área expositiva foram abertos ao público na segunda quinzena de setembro deste ano. A inauguração foi celebrada com uma exposição singular do artista plástico britânico Anish Kapoor.  

Concentrados em uma pequena região no centro de uma cidade com proporções colossais, os espaços dedicados à cultura em São Paulo são diversos, mas pouco democráticos. A privação deste direito (constitucional, aliás) não é algo pontual, mas tem história, memória, nome, sobrenome e até mesmo CEP. 

3,4 milhões de pessoas vivem em zonas periféricas, o que corresponde a 7,7% da população de todo o estado, de acordo com pesquisa do Data Favela e do Sebrae-SP. Com o objetivo de driblar essa barreira socioeconômica, a Lei 8.313/1991, popularmente conhecida como Lei Rouanet, estimula o apoio da iniciativa privada ao setor cultural. A lei prevê que empresas e pessoas físicas possam deduzir do Imposto de Renda os valores doados ou investidos em projetos culturais — e assim surge a Casa Bradesco. 

De volta à elite paulistana, o nome Matarazzo abandonou as memórias da antiga maternidade do Hospital Umberto I — construído em 1904 e localizado em meio às mais nobres quadras da Bela Vista — em prol de um objetivo muito mais ambicioso. Lar do Hotel Rosewood, primeiro da premiada rede Rosewood no Brasil, o complexo precisou de míseros R$3 bilhões para ganhar vida. Um absoluto sucesso na hotelaria, o novo cartão postal da cidade agora não se limita a meras cartas, encontrando destino final nos posts e mais posts de pessoas comuns que também querem poder desfrutar de tamanho luxo. 

Em um percurso de 22km desbravados entre os túneis do Metrô de São Paulo e os trilhos da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), está fotorreportagem toma espaço em meio ao cotidiano da capital e as paisagens que passam despercebidas no frenesi do transporte público. Saindo do extremo sul (Estação Autódromo), passando por duas baldeações até, enfim, chegar à Cidade Matarazzo, onde a Casa Bradesco toma lugar.

Início do passeio, começando pela Estação Autódromo, Jardim Satélite – Zona Sul. (Foto: Matheus Alves)
Com impressionantes 31,8 km de extensão, a Linha-9 Esmeralda transporta, em média, aproximadamente 600 mil passageiros por dia. (Foto: Matheus Alves)
Perspectiva do bairro Jardim Satélite – onde fica o Autódromo de Interlagos – visto pela plataforma de embarque da CPTM. (Foto: Matheus Alves)
Chegada do trem na estação. (Foto: Matheus Alves)
Apesar do contra-fluxo, o trem já estava cheio antes do horário de pico do fim de tarde. (Foto: Matheus Alves)
Baldeação para a Linha Amarela do Metrô. (Foto: Matheus Alves)
Em dia de jogo, a Política Militar reforça a segurança nas estações do Metrô e CPTM e ajudam a guiar as torcidas, evitando confrontos. (Foto: Matheus Alves)
Banca de jornal ainda ativa em meio a Avenida Paulista. (Foto: Matheus Alves)
Entrada da Casa Bradesco, Alameda Rio Claro, 190 – Bela Vista. (Foto: Matheus Alves)
Seleção de livros de arte, cultura, fotografia, história e moda da loja do museu. Todos caros. (Foto: Matheus Alves)
Após todo o percurso, foi descoberto que o valor do ingresso era de R$80, meia para estudantes, professores e pessoas com deficiência. Mas às terças-feiras, é de graça — se você não trabalha ou estuda entre às 12h e 20h. Restou voltar para casa, afinal, o valor da passagem aumentou. (Foto: Matheus Alves)

Matheus Alves

Estudante de Jornalismo na Universidade Federal de Santa Catarina, adora moda, fotografia, R&B e gastronomia.

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