Iara Rocha
Alunos do curso de Cinema da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), indignados com as condições precárias na infraestrutura do centro em que estudam, realizaram um documentário denunciando o descaso da universidade com o local. A produção A gota d’água: do desmonte ao desgaste teve sua estreia durante a programação da 15ª Semana Acadêmica de Cinema, no Auditório do Centro Socioeconômico (CSE) da UFSC, na segunda-feira (11), às 19h.
A equipe de 13 alunos teve o objetivo de registrar a realidade dos universitários que frequentam o Centro de Comunicação e Expressão (CCE) no campus Trindade, que possui o prédio mais antigo da UFSC. A precariedade do espaço físico, explícita nas salas com mofo, paredes com infiltração e a falta de água em bebedouros e banheiros, impacta diretamente na qualidade do ensino e do bem-estar dos 147 estudantes matriculados no curso de Cinema.
Os diretores do documentário, Isabelle Spaniol e Vinicius Machado, apontam que o desgaste dos espaços e a problemática da água é um ponto em comum de todos os prédios da universidade. “O documentário é justamente sobre a ironia de que a água está no teto, na infiltração, na rachadura, na goteira, mas não está no bebedouro, na torneira, descarga, onde ela deveria estar. Existe essa troca de lugares”, descreve Vinicius.
Isabelle e Vinicius destacam que Florianópolis é um município conhecido pelas fortes chuvas, principalmente no período do verão. Para além da escassez de água potável ou em banheiros, o curta mostra como é comum a falta do ar-condicionado das salas de aula em dias de calor e a ausência de estruturas adequadas na universidade para chuvas, percebida na fragilidade dos tetos e na água nos pisos.
A produção do filme coincidiu com a greve dos estudantes da UFSC, em maio e junho deste ano. A melhora do espaço físico da universidade e a falta de verba para reforma e manutenção foram duas das principais reivindicações do Centro Acadêmico de Cinema (Cacine), um dos seis centros acadêmicos do CCE. “Por mais que o documentário esteja sendo exibido depois do término da greve, esse assunto nunca deixou de estar no nosso cotidiano”, reforça Isabelle.
Para a diretora, a resposta da indignação dos alunos de Cinema frente à greve não poderia ser outra senão documentar com o que os alunos precisam conviver para estudar na universidade pública. “A gente tinha que usar a nossa ferramenta, que é o cinema, para mostrar nossa insatisfação”, declara. No documentário, é enfatizado que a necessidade de busca por melhorias fundamentais no espaço universitário é um pedido dos estudantes para que a saúde seja uma prioridade”.
O Laboratório de Cinematografia (LabCine), localizado no Bloco D do CCE dá suporte para o funcionamento do curso de Cinema a partir do equipamento necessário para a produção de curtas e longas pelos estudantes. Os materiais disponíveis são de compra do corpo docente e técnico, equipamentos doados, assim como outros bens antigos. Por isso, a falta de manutenção dos materiais e a redução do orçamento pela universidade para compra de novos é uma problemática constante dos alunos do curso.
No documentário, foram entrevistados Guel Varalla, Técnico Administrativo em Educação (TAE) do curso de Cinema, Felipe Backendorf, mestrando em Física na UFSC e o reitor Irineu Manoel de Souza, que estavam presentes na exibição de estreia. Outras fontes foram Maria Alice Neves, do laboratório de Micologia da UFSC, Hélio Rodak, ex-prefeito universitário da UFSC, Fábio Luiz Lopes da Silva, diretor do CCE, e Paolo Colosso, professor no Departamento de Arquitetura e Urbanismo.
Para produzir, gravar e editar o vídeo foram necessários sete meses de trabalho, de abril a novembro. O trabalho foi feito inicialmente para a disciplina de “Documentário”, ministrada pelo professor Henrique Finco. Ao final, o curta contabilizou 18 minutos, entre entrevistas, gravações do espaço, atuação e relatos. O documentário será reexibido em 4 de dezembro, na sala 213 no Bloco A do CCE, às 8h30. O filme ainda não está disponível online, pois os diretores, Isabelle e Vinicius, pretendem veicular o curta em outros eventos.
A estudante e organizadora da Semana Acadêmica de Cinema, Vitória Petris Tambosi, afirma que o evento é um espaço para fomentar a pesquisa, o estudo e a valorização das produções universitárias. “É um lugar de debate sobre o mundo cinematográfico e audiovisual, mas também sobre o meio acadêmico e a universidade em si”.
Para além das discussões, Vitória reforça que as exibições são essenciais para que os universitários que estão ingressando no mercado audiovisual tenham um espaço para expor os primeiros trabalhos. “Não adianta fazer um filme e ele ficar guardado na gaveta. O audiovisual depende totalmente dos espectadores para dar certo. É muito gratificante que a gente tenha o retorno do público das nossas obras que estão sendo produzidas na universidade”.
A 15ª edição da Semana Acadêmica de Cinema acontece de 11 a 14 de novembro, com a realização de oficinas, mostras e simpósios a partir da temática “Mulheres no audiovisual”. Duas mostras estão sendo realizadas nos dias 11 e 12, a Mostra de Cinema Ruth de Souza, que apresenta produções universitárias no Brasil, e a Mostra de Cinema Cine-Frutos, específica para materiais produzidos na UFSC. A programação completa pode ser vista no Instagram pelo perfil @cinemaufsc.
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