“Hereditário”: Os demônios que herdamos

Destino, família e morte são temáticas evisceradas no filme dirigido por Ari Aster

Luana Consoli

Hereditário estreou no Festival Sundance de Cinema em janeiro de 2018, sendo lançado nos Estados Unidos apenas em junho do mesmo ano. (Foto: Reprodução/A24/Windy Hill Pictures/PalmStar Media)

Perturbador e hipnotizante, o longa Hereditário (2018) é mais uma produção do estúdio A24, carregando características de outros filmes da produtora e confirmando que o “Horror A24” é um subgênero por si só. Com direção da figurinha marcada Ari Aster e atuação impecável de Toni Collette (Annie Graham) e Milly Shapiro (Charlie Graham) como mãe e filha, a história é envolvente e te faz sair das telas em busca de mais informações assim que os créditos sobem.

Narrando um grande caso de família, o roteiro nos leva a pensar quais dêmonios herdamos de nossos pais — não ironicamente. Após a morte da matriarca dos Graham, vemos Annie lidar com o luto confuso por perder sua mãe, uma pessoa com quem ela nunca conseguiu realmente se conectar. Entre viver a própria perda e mediar a tristeza de sua filha, Charlie, a personagem mostra que nem tudo é preto no branco, e que raiva, medo, inveja e ressentimento não desaparecem com a morte.

Definitivamente não é um filme para estômagos fracos. O uso do horror gore e da violência explícita se faz presente em diversas cenas. Contudo, estes momentos são representações necessárias para dar o tom da narrativa e trazer simbolismos. As cabeças rolando por todo o filme mostram premonições do que está por vir.

Destino é também um tema central e aparece em diálogo direto em uma das aulas de Peter, filho mais velho de Annie. Na cena, vemos uma discussão envolvendo as peças trágicas da Antiguidade que dialogam sobre a inevitabilidade do destino dos heróis. Existe livre-arbítrio ou estamos condenados a seguir com o nosso caminho? Seja para os heróis ou para os vilões, as peças gregas enfatizam que as escolhas já estão premeditadas. Hereditário também traz essa confirmação.

A direção de Ari Aster faz com que o telespectador se torne parte integrante da trama. Ficamos confusos tal qual os personagens, tentando descobrir o porquê da família ser amaldiçoada até os últimos momentos da trama. Desconfiamos de Annie por seus comportamentos questionáveis em diversos momentos — como na emblemática cena de puro female rage à mesa de jantar.

Mas quando falamos do grande vilão, a menção a um dos Reis do Inferno, Paimon, revela quem está por trás de toda a ação sobrenatural. E quem diria que demônios seriam machistas? Alojado no corpo da pequena Charlie, eles são um só. A criança, no entanto, é apenas uma porta para a possessão final, que deve ser concluída quando Paimon for transferido para o corpo de um homem.Para os fãs de uma trama sobrenatural envolvente e enigmática, que não entrega respostas de bandeja, Hereditário é uma obra que deve ser assistida.


Luana Consoli

Redatora, fã de terror e romance, mãe de pet e estudante de jornalismo pela UFSC nas horas vagas.

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