Luana Consoli
Perturbador e hipnotizante, o longa Hereditário (2018) é mais uma produção do estúdio A24, carregando características de outros filmes da produtora e confirmando que o “Horror A24” é um subgênero por si só. Com direção da figurinha marcada Ari Aster e atuação impecável de Toni Collette (Annie Graham) e Milly Shapiro (Charlie Graham) como mãe e filha, a história é envolvente e te faz sair das telas em busca de mais informações assim que os créditos sobem.
Narrando um grande caso de família, o roteiro nos leva a pensar quais dêmonios herdamos de nossos pais — não ironicamente. Após a morte da matriarca dos Graham, vemos Annie lidar com o luto confuso por perder sua mãe, uma pessoa com quem ela nunca conseguiu realmente se conectar. Entre viver a própria perda e mediar a tristeza de sua filha, Charlie, a personagem mostra que nem tudo é preto no branco, e que raiva, medo, inveja e ressentimento não desaparecem com a morte.
Definitivamente não é um filme para estômagos fracos. O uso do horror gore e da violência explícita se faz presente em diversas cenas. Contudo, estes momentos são representações necessárias para dar o tom da narrativa e trazer simbolismos. As cabeças rolando por todo o filme mostram premonições do que está por vir.
Destino é também um tema central e aparece em diálogo direto em uma das aulas de Peter, filho mais velho de Annie. Na cena, vemos uma discussão envolvendo as peças trágicas da Antiguidade que dialogam sobre a inevitabilidade do destino dos heróis. Existe livre-arbítrio ou estamos condenados a seguir com o nosso caminho? Seja para os heróis ou para os vilões, as peças gregas enfatizam que as escolhas já estão premeditadas. Hereditário também traz essa confirmação.
A direção de Ari Aster faz com que o telespectador se torne parte integrante da trama. Ficamos confusos tal qual os personagens, tentando descobrir o porquê da família ser amaldiçoada até os últimos momentos da trama. Desconfiamos de Annie por seus comportamentos questionáveis em diversos momentos — como na emblemática cena de puro female rage à mesa de jantar.
Mas quando falamos do grande vilão, a menção a um dos Reis do Inferno, Paimon, revela quem está por trás de toda a ação sobrenatural. E quem diria que demônios seriam machistas? Alojado no corpo da pequena Charlie, eles são um só. A criança, no entanto, é apenas uma porta para a possessão final, que deve ser concluída quando Paimon for transferido para o corpo de um homem.Para os fãs de uma trama sobrenatural envolvente e enigmática, que não entrega respostas de bandeja, Hereditário é uma obra que deve ser assistida.
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