Ana Muniz
Esta semana, o Centro de Eventos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) foi um espaço para trocas culturais e discussões literárias com a segunda edição do Festival Literário da UFSC, o II Flufsc. O evento, promovido pela Secretaria de Cultura, Arte e Esporte (SeCArtE) da universidade, ocorreu entre os dias 14 e 16 de outubro e contou com cerca de 44 lançamentos de livros, além de 36 artistas e pesquisadores convidados. Com o título “Travessias Literárias”, o festival homenageia o centenário do escritor Salim Miguel, grande nome da literatura brasileira e catarinense.
Nascido no Líbano em 1924, Salim chegou ao Brasil três anos depois. Cresceu em São Pedro de Alcântara, distrito do município de Biguaçu, nos arredores de Florianópolis — se autodefinia como “líbano-biguaçuense”. Durante sua carreira, atuou como escritor, roteirista, jornalista, editor e gestor cultural, acumulando 23 livros publicados, entre romances, contos e novelas. “Nós nos articulamos com a travessia que a família do Salim fez quando veio do Líbano e buscamos outras travessias, deslocamentos que nos colocam em movimento no mundo”, explica Eliane Debus, secretária de Cultura, Arte e Esporte da UFSC. O autor tem uma importância especial para a universidade devido a sua atuação como diretor executivo da Editora da UFSC de 1983 a 1991.
Com o objetivo de promover debates sobre a produção literária e contemplar diferentes gêneros e origens, o II Flufsc contou com rodas de conversa, varais literários, lançamentos, estandes de 25 editoras, performance e um show de encerramento. As rodas, que incluíram escritores e pesquisadores nacionais e internacionais, trataram de temas como o legado de Salim Miguel, slam, a literatura de pessoas indígenas e tendências contemporâneas na escrita. Segundo a vice-reitora da UFSC, Joana Célia dos Passos, o Flufsc é uma proposta de sua gestão com o reitor, Irineu Manoel de Souza, para tornar o “respiro da literatura” presente com mais força na universidade. “É essa literatura que nos faz deslocar para outros territórios, culturas, ideologias, e construir pontes através desses deslocamentos”, diz.
Um dos convidados mais aguardados do evento foi o prosador e poeta angolano Ondjaki, que participou da roda de conversa “Travessias Literárias – Angola/Brasil” às 19h da última quarta-feira (16). O escritor é reconhecido internacionalmente e foi consagrado por diversas premiações, como o Jabuti da categoria Juvenil em 2010, com a obra Avó Dezanove e o Segredo do Soviético. Junto à mediadora Eliane Debus, Ondjaki falou sobre memórias de infância com sua família, escritores que o inspiram — como o angolano Manuel Rui e o brasileiro Manoel de Barros — e a falta de abertura do mercado literário brasileiro para mais autores da Angola. “Nós, o povo brasileiro, angolano, moçambicano, temos curiosidade para conhecer a cultura uns dos outros. Era preciso que as pessoas com cargos de decisão entendessem que nós estamos a pedir novas condições culturais para fazermos uma troca, que o povo, os artistas, já estão preparados para fazer”, afirma o autor.
A edição encerrou com o espetáculo musical Minha Prece Ecoa da cantora Dandara Manoela no Auditório Garapuvu do Centro de Eventos às 20h da quarta-feira. O concerto trouxe um show de alegria, resistência e combatividade, com letras poéticas e sons vibrantes. Dandara, graduada em Serviço Social pela UFSC, fez uma revelação sobre o palco: devido à pandemia, ela não pôde fazer sua cerimônia de formatura no auditório, algo que era uma meta sua. Porém, com sua apresentação, disse que conseguiu ressignificar esse sonho. Encerrou o show com uma homenagem à vice-reitora Joana Célia dos Passos.
Quer saber mais sobre o Festival? A Rádio Ponto UFSC, por meio do programa Pontuando, realizou a cobertura do evento. Confira o conteúdo no canal do Pontuando no Spotify ou nas plataformas da Rádio Ponto UFSC.
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