As metamorfoses de “Turma da Mônica: Lições”

O que acontece quando Mônica e seus amigos são forçados a crescer?

Marcelo Pedrozo

O filme Turma da Mônica: Lições, assim como seu antecessor Turma da Mônica: Laços (2019) é baseado em uma HQ do selo Graphic MSP, de autoria dos irmãos Vitor e Lu Cafaggi. (Foto: Reprodução)

— Essa é a fase mais difícil: o casulo. A lagarta vai crescer aqui dentro até ficar apertado demais. Em algum momento, ela vai precisar romper esse casulo. Não é fácil, mas só assim ela vai virar uma borboleta linda e pronta pra voar. Todo esse ciclo se chama metamorfose.

É nessa metáfora nada sutil que se encontra o coração de Turma da Mônica: Lições, segundo longa-metragem em live-action da Turma da Mônica, lançado em 2021 e dirigido por Daniel Rezende. Uma história sobre o crescer e sobre suas dificuldades, que apresenta aos personagens de Mauricio de Sousa desafios que eles nunca precisaram enfrentar antes.

Mônica (Giulia Benite), Cebolinha (Kevin Vechiatto), Cascão (Gabriel Moreira) e Magali (Laura Rauseo) tentam fugir de casa, mas o plano infalível de Cebolinha — para variar — dá errado. Mônica quebra o braço, e os pais se veem obrigados a apresentar consequências: Cebolinha vai para a fonoaudióloga, Cascão é matriculado na natação, e os pais de Magali a colocam em um curso de culinária, na esperança de que isso controle sua ansiedade — e sua fome.

Os pais de Mônica são os mais severos: decidem colocar a filha em outro colégio, com turno integral.

— Eu não quero mudar.
— É, mas a mudança é uma coisa natural, né, filha? Faz parte da vida de todo mundo.

— Quando eu vou poder ver meus amigos?
— Meu amor, quando eu era criança, foi quando eu mudei de escola que eu fiz meus melhores amigos, meus amigos da vida toda.
— Eu não quero fazer novos amigos.

Esse é o conflito que amarra a história. Mônica, removida de repente da zona de conforto que era a amizade de Cebolinha, Cascão e Magali, precisa conhecer novos colegas, estudar em uma escola diferente… e crescer.

Ela rejeita essa ideia. Não se interessa em fazer novas amizades, leva seu coelhinho de pelúcia, Sansão — o símbolo máximo de sua infância —, para a escola. Quer que as coisas permaneçam como sempre foram.

— Eu odeio crescer. Quando a gente cresce, a gente perde os amigos, para de brincar. E todo mundo fala que é legal. Mas eu odeio.

Sua mãe, Dona Luísa (Monica Iozzi), tem a posição contrária. Acredita que Mônica deve crescer, deve sair de sua zona de conforto, mas a arranca da infância com tamanha violência que isso faz a filha rejeitar a ideia ainda mais. Mônica vê o crescimento como algo ruim, porque ele vem aliado à perda de todos os elementos bons de sua infância.

É quando a garota conhece Tina (Isabelle Drummond) que entende que existe a possibilidade de um meio-termo.

— Quando uma coisa muda, a gente não precisa jogar fora. A gente pode transformar em outra coisa. Isso é crescer.

Tina conta uma história que remete à de Mônica, sobre os ciúmes que seus amigos sentiam quando ela fazia novas amizades, até que ela percebeu que podia, simplesmente, juntar todo mundo. Mônica estava com um problema parecido, sofrendo com ciúmes da amizade de Magali e Milena (Emilly Nayara) e enfrentando isso dando uma chance para a colega Marina (Lais Villela). Ela percebe, então, que deveria seguir os passos de Tina: juntar a todos. Reúne os amigos novos e antigos, une a infância à adolescência, porque aprendeu, finalmente, que existe um meio-termo.

E é a partir disso que faz as pazes com a mãe. Dona Luísa concorda em tirar a filha do período integral, para que ela possa ter tempo com os amigos antigos. Mas agora, na nova escola, Mônica não está mais presa à zona de conforto que era essa amizade, e está aberta a novas relações; isso só não significa que ela tenha de rejeitar as antigas.

— E não é que você ensinou uma lição pra sua mãe?

— Eu?

— A gente nunca deixa de crescer. Nunca.

Lições é uma história sobre crescer, sobre a vida e sobre todas as metamorfoses pelas quais passamos. Fala especificamente da jornada de Mônica e seus amigos da infância à adolescência, mas traz lições que se aplicam a todas as mudanças da vida. Quando assisti ao filme pela primeira vez, em 30 de dezembro de 2021, faltava um mês para que eu prestasse o vestibular. Logo chegaria uma das maiores mudanças de minha vida, mas hoje, já no sexto semestre da faculdade, as lições que aprendi com o filme se mantêm as mesmas. E, ainda hoje, sei que o meio-termo a que Mônica e Dona Luísa chegam ao fim do filme não se aplica só para a relação delas. É importante crescer e estar aberto às mudanças da vida, mas existem coisas que podem permanecer as mesmas. E as mudanças — as metamorfoses — não precisam ser ruins.

Obrigado pelas lições, Turma da Mônica.


Marcelo Pedrozo

Estudante de Jornalismo da UFSC e apaixonado por histórias. Escrevendo um livro como forma de terapia.

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