João Felipe Pereira dos Santos*
Circulando é um espetáculo apresentado pelo grupo catarinense Vergonha Alheia e protagonizado pela palhaça Tchuvis, interpretada pela atriz Carla D’Ambroz, aluna do curso de Artes Cênicas na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Em 25 de julho, foram realizadas duas sessões da peça no Teatro da Ubro em Florianópolis — uma às 15h e outra às 20h. A montagem tem a direção de Juanee Quinalha, ator formado pelo curso de Artes Cênicas na UFSC. Ele também atua como palhaço na calorosa recepção do público na bilheteria, além de ser a voz do único companheiro de palco de Tchuvis, o rádio.
Em 2020, em meio à pandemia, na cidade gaúcha Bento Gonçalves, nasceu o projeto de Circulando, o primeiro solo de Tchuvis. A peça estreou nos palcos em 2022 e, no mesmo ano, se mudou para Florianópolis junto a seus integrantes. Assim, foi criado o grupo Vergonha Alheia, projeto de pesquisa da área de palhaçaria no curso de Artes Cênicas da UFSC. Desde então, a montagem foi apresentada algumas vezes para o público de forma presencial, contemplada com editais de incentivo à cultura, como o Elisabete Anderle 2023.
A apresentação conta com uma ambientação remetente ao período de quarentena na pandemia da Covid-19. Era um dia comum de uma pessoa não tão comum. Entretanto, ao acordar, a personagem palhaça se vê impedida de sair de casa pela ameaça de um vírus extremamente perigoso que se espalha pelo ar. Junto a seu único companheiro de cena, um rádio, responsável por passar todas as notícias e guiar as suas ações, Tchuvis segue a trama pontuando as angústias compartilhadas por todos que passaram pelo isolamento social naquela época.
Presa dentro de casa, andando em círculos e enfrentando o tédio de frente, a protagonista busca caminhos para se livrar da monotonia de estar em uma casa que mais parece uma sala, um único quadrado, sem possibilidade de exploração. Com a ajuda do rádio, ela cria diversas formas de se entreter, desde aulas de fotografia a uma performance divertidíssima de solo de piano, assim como uma curiosa e engraçada sessão de apreciação de chá. A atuação sempre consciente e precisa de Carla, consegue suscitar os risos da plateia nos momentos mais convenientes. Até para um espectador que já assistiu ao espetáculo anteriormente, os momentos de comédia continuam muito cativantes. A presença de cenas que incentivam a participação do público ajuda na manutenção da intenção cômica da personagem, com um momento de interação direta com uma pessoa da plateia, inclusive.
O final do espetáculo nos coloca diante de uma atmosfera de frustração e desolamento vivida pela protagonista decorrente do avanço da quarentena. Todos os esforços para sobreviver a esse enclausuramento aparentemente se esgotaram e o calendário somente avançou. A peça, nos seus momentos finais, começa a criar um ar melancólico, que se estende por um tempo talvez desnecessário, pois nos tira do universo tão intenso da palhaçaria estabelecido desde o início.
*Graduando do curso de Artes Cênicas da UFSC.
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