Ana Caroline de Campos*
O projeto de extensão e pesquisa em dança da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), “Compondo Gestos: compartilhando experiências”, apresentou ao público, uma última vez, a composição “Sentidos Transitórios”. Promovido por uma parceria entre o Departamento de Artes (ART) da universidade e a Secretaria de Cultura Arte e Esporte (SeCArtE) da UFSC, o projeto é ministrado pela docente Danieli Alves Pereira Marques. Os dançarinos, unidos pela escuta de si, do outro e dos arredores, exploraram os fundamentos da Técnica Klauss Vianna (TKV) numa rica cena de pouco mais de 30 minutos, cujo tema ainda é incerto, mas o impacto, valioso. A apresentação ocorreu no dia 20 de março, na Mostra Acadêmica de Artes Cênicas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Num primeiro momento, a estranheza dominou o espaço. Diferente das tradicionais apresentações de dança, não havia palco italiano, tampouco cadeiras dispostas em filas. Nesse espetáculo, os assentos formavam um grande círculo vazado, por onde os dançarinos entravam e saíam a todo momento, formando, quase que, um palco-arena.
A premissa de “Sentidos Transitórios” era que nada, ou muito pouco, fosse coreografado. Os dançarinos, ainda assim, transmitiam os mais diversos sentimentos aos espectadores: do apavoro à paz, da tristeza ao êxtase. Klauss Vianna, em seu livro “A Dança”, escreve que o estilo próprio de cada bailarino não deveria ser prejudicado quando estivessem em grupo. Durante a composição, cada um dos integrantes do coletivo mostrou a sua personalidade individual. O surpreendente era saber que tudo aquilo era improvisação. Haviam camadas e camadas de comunicação dos bailarinos: entre eles e com o público. Pequenos grupos se separavam para contar histórias diferentes através da dança contemporânea.
Haviam momentos em que o silêncio dominava. Em outros, porém, a trilha sonora era realizada pelos próprios dançarinos: da batida dos pés contra o chão, aos gritos, sussurros e palavras soltas. Tudo isso formando uma mistura que, mesmo sem decodificação idiomática por parte de quem assistia, ainda fazia sentido. Era como se os dançarinos falassem com os passos de linhas precisas, e os espectadores escutassem com a alma.
Mesmo as diferentes cores vibrantes que constituíam os figurinos contavam histórias. Cada pequeno grupo seguia um padrão: haviam os vermelhos e os verdes, por exemplo, e em momentos críticos, onde todos se misturavam, era quase como se falassem sobre um recorte das diferenças de uma sociedade que, passando por cima de outros fatores, ainda há de conviver pacificamente.
Os minutos finais foram os mais chocantes. Repletos de auto-observação, os bailarinos dançavam caminhando para o centro e em contato uns com os outros. As luzes se apagaram no exato momento em que os corpos foram “desmontados” num suspiro, arrepiando boa parte da plateia e deixando em aberto a interpretação da cena que acabara de acontecer diante dos presentes olhos curiosos.
*Estudante de Artes Cênicas na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
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