Elerson Mario Silva Gomes*
A adaptação de “Auto da Fé”, dirigida por Eric Tomas, estudante do curso de Artes Cênicas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), oferece uma perspectiva contemporânea e instigante da peça original de Tennesse Williams (1911-1983). As obras do dramaturgo, que assumia pseudônimo de Thomas Lanier Williams III, transmitem sempre uma impressão pessimista, sendo frequente a presença de personagens psicopatas, incapazes de encontrar o seu lugar na sociedade. Ao reimaginar os personagens e enredos, Tomas mergulha nas complexidades da moralidade, da repressão religiosa e da tragédia, temas recorrentes nas obras de Williams, bem como a simplicidade e a metáfora.
A peça foi apresentada em 21 de março, com duas sessões na XI Mostra Acadêmica de Artes Cênicas (MAÇA) da UFSC, cada uma com 36 minutos de duração. O elenco, liderado por Carla D’Ambrozz e Melissa Versari, resulta em uma performance cativante que captura a intensidade e a angústia dos protagonistas. As duas sessões da peça foram aclamadas pelo público e se tornaram assunto nas rodas de conversas depois das sessões, graças à atmosfera envolvente, às interpretações marcantes e ao cenário inovador.
Nesta nova versão, as personagens são irmãs que vivem juntas há anos em uma relação de inquietudes e desavenças. Vergonhosos segredos escorrem por seus dedos, uma verdade começa a vir à tona e uma pequena faísca se torna a causa de um final trágico — no texto original, os personagens são mãe e filho.
As escadarias do segundo andar do Bloco D do CCE foram o cenário dessa adaptação. A peça dialoga com o público por meio de representações próximas do cotidiano com a utilização de níveis sociais, ocultamente expressos sobre os andares das escadas. A parte alta representa os mais certos, os que “vão para o céu” e a mais baixa representa os reprimidos, os que “não alcançarão a vida eterna”. A metáfora das diferentes alturas nas escadas, representando os estratos sociais e os destinos espiritualmente opostos dos personagens, é particularmente poderosa. O uso criativo deste ambiente não só acrescenta uma camada visual única à peça, mas também amplifica a mensagem que é transmitida.
O lugar instigante escolhido para representar a peça, segundo Eric Tomas, foi escolhido devido à provocação de uma professora. “Houve um aspecto técnico, porém, considerando o tema da peça, analisei os espaços disponíveis e cheguei à conclusão de que as escadas seriam o ideal”, diz o universitário.
Em suma, a adaptação de “Auto da Fé” não apenas enaltece o enredo de Tennessee Williams, mas também oferece uma experiência teatral única e emocionalmente impactante, explorando questões atemporais da condição humana.
*Estudante do curso de Artes Cênicas na UFSC, ator e dançarino.
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