Adimilson Laureano da Silva, Elerson Mario Silva Gomes, Jaqueline Vitória da Silva, João Felipe Pereira dos Santos, Maria Eduarda Soares Januário, Mariana Carvalho Bisco e Samantha Sant’Ana
O Futurismo foi um movimento polêmico que surgiu nos primeiros anos do século XX na Itália e, concomitantemente, na França. Sua origem se deu a partir da publicação do primeiro Manifesto Futurista, composto por 11 itens, com palavras de ordem que defendiam enfaticamente a ruptura com o passado e a identificação do homem com a máquina, a velocidade e o dinamismo do novo século. Esse Manifesto foi escrito por Filippo Tommaso Marinetti (1876 – 1944), um escritor, poeta, editor, ativista político italiano e fundador do Futurismo. Divulgado em 1909 no jornal Le Figaro, o Manifesto inaugurou uma era de rebeldia criativa que defendia o fim do moralismo até então estabelecido na arte burguesa.
No entanto, existiam muitas controvérsias em seus discursos. Por exemplo, ainda que os artistas participantes do movimento criticassem as escolas religiosas, suas filhas dos artistas frequentavam essas instituições. Eram a favor do direito das mulheres ao voto, mas utilizavam a figura feminina como objeto em suas peças. Marinetti negava o passado e ovacionou a revolução tecnológica e industrial, causando polêmica não só ao romper com a arte da época, mas também por apoiar figuras políticas como Mussolini, líder do Partido Nacional Fascista. Dessa forma, o Futurismo passou a ser associado ao Fascismo, lançando sombra sobre suas aspirações de vanguarda.
O antitradicionalismo, além do culto à guerra e à velocidade eram características desse movimento, que, no Brasil, foi o responsável pelo surgimento do Modernismo (1922), o qual assimilou o seu antitradicionalismo com vistas à criação de uma arte nova e libertária. O Modernismo brasileiro, representado por figuras como Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral, abraçou ideias semelhantes de ruptura com o passado e com a busca por uma identidade artística genuinamente brasileira, canibalizando a arte europeia, por exemplo.
No dia 11 de janeiro de 1911, Marinetti assinou o Manifesto dos Dramaturgos Futuristas, em Milão, na Itália. No documento, deixou evidente que o teatro deveria ser ágil e curto, porém, capaz de tirar boas risadas, ou um safanão do espectador. Nessa época, o Manifesto do Teatro Futurista Sintético tinha como regra “não escrever cem páginas onde bastaria apenas uma, só porque o público, por um instinto infantil, quer ver o caráter de um personagem resultar de uma série de fatos …”.
No período futurista, 90% dos italianos iam ao teatro, segundo Marinetti, Settimelli e Corra, por serem textos pequenos que eram publicados em jornais e revistas, diferente de peças maiores. As sintéticas peças de Marinetti traziam velocidade e agressividade ao seu texto. Como deixa explícito no Manifesto Futurista de 1909, “Não há mais beleza, a não ser na luta. Nenhuma obra que não tenha um caráter agressivo pode ser uma obra-prima. A poesia deve ser concebida como um violento assalto contra as forças desconhecidas, para obrigá-las a prostrar-se diante do homem […]. Nós queremos destruir os museus, as bibliotecas, as academias de toda natureza, e combater o moralismo, o feminismo e toda vileza oportunista e utilitário”.
O ativista escreveu e publicou várias peças no modelo curto, em especial “O Contrato“. Publicada em 1922, a peça se insere no Futurismo, fundado pelo próprio Marinetti. De acordo com o Manifesto Futurista: “a magnificência do mundo enriqueceu-se de uma beleza nova: a beleza da velocidade. Um automóvel de corrida com seu cofre enfeitado com tubos grossos, semelhantes a serpentes de hálito explosivo… um automóvel rugidor, que correr sobre a metralha, é mais bonito que a Vitória de Samotrácia”. A peça se configura como uma metáfora desse trecho, sendo curta e breve, tem personagens com apenas uma fala, um começo abrupto e desfecho mais ainda.
É como se tivesse sido retirado um fragmento do clímax de uma peça. Ao ler ou assistir à obra, percebendo sua efemeridade, é fácil entender o porquê de ser denominada uma peça sintética.
Para romper com os moldes que atuavam na época, nos quais os textos eram longos, com escritas já conhecidas e sem surpresas para o público, a ideia agora era chocar. Além disso, buscava-se criticar o que se via evoluir na sociedade: a rapidez e falta de profundidade nas coisas, nas relações, na vida e na própria arte. Bem como fala Carlo Serafini no seu artigo “Estudos Italianos”, publicado em Portugal: “O dinamismo, a força, a velocidade, o rumor, a ruptura, a luz, gritos e protestos, não são mais do que os ingredientes de uma teatralidade intrínseca ao movimento”.
Entretanto, viu-se que o futurismo em si não seguia uma ideologia fascista, tendo em vista o que mais tarde foi denominado como “Marinettismo”, um fenômeno influenciado pela imagem do criador que se tornou um rosto do movimento para a sociedade. O Marinettismo era um movimento seguido por aqueles mais próximos de Marinetti, os chamados “Futuristas de Milão”. Em seguida, essa foi a denominação depreciativa responsável pelo rompimento de alguns integrantes do Futurismo. Alguns, como Soffici e Palazzeschi, publicaram textos que chegavam até a satirizar o Futurismo de Marinetti.
Os adeptos do movimento deveriam vivenciar os preceitos futuristas no palco do mundo e não só no palco do teatro. Como todo movimento de vanguarda, ele surgiu para acabar com um padrão que existia, e, teve de “acabar” antes que viesse a ser o novo padrão. A luta existia contra todos os estereótipos e convenções existentes, tanto na sociedade quanto na arte.
A expectativa ao realizar uma peça era que o público ficasse confuso, abismado e até mesmo revoltado, bem como em “O Contrato”. Alguns diriam que os futuristas desdenhavam do público: “[…] nesse momento, a senhora de preto passa para o outro lado da cama e dá as costas para os espectadores. Sobre suas costas, se vê uma plaquinha com as palavras: Aluga-se. Cortina.”. No fim, a intenção poética era que o público fosse parte do espetáculo, mesmo que daquela forma hostil. “É preciso que o poeta prodigalize com ardor, esforço e liberdade, para aumentar o entusiástico fervor dos elementos primordiais”, declarava o Manifesto Futurista. Era uma nova abordagem para a produção teatral, almejando desviar o olhar enraizado da “obrigação meramente social” que o teatro acabara por adquirir. Apesar de o Futurismo ter seus dias de glória em um período específico, deixou reflexões e influências para serem analisadas, entre elas o comportamento humano nos dias de hoje.
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